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PMDB terá nome próprio na corrida ao governo

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É leviandade a alguém tentar justificar seu fracasso administrativo culpando o governo que o antecedeu. Jatene justifica a incompetência do seu governo em cima de administrações de mais de 20 anos atrás.

O PMDB vai ter candidato próprio ao governo do Estado e, seguindo a estratégia nacional de buscar a reeleição da presidente Dilma Rousseff, marchará com o PT nas eleições deste ano. O cenário que já se desenhava desde o ano passado foi oficialmente confirmado pelo presidente estadual do PMDB no Pará, o senador Jader Barbalho.


Em entrevista ao DIÁRIO, Jader comentou a crise do funcionalismo público, categoria a quem atribuiu grande importância para o sucesso de uma administração, e respondeu às insinuações feitas pelos atuais gestores de que os problemas atuais teriam como raiz problemas de gestão durante seus dois mandatos como governador do Pará, nos anos 1980 e 1990. “Seria leviano atribuir o fracasso de um governo à administração anterior, há mais de 20 anos. Nesse ritmo, vão acabar culpando Lauro Sodré”, ironizou.

Na entrevista às repórteres Rita Soares e Carolina Menezes, o senador do PMDB falou também do rompimento com os tucanos no Pará, dos projetos que tem defendido no Senado e de estratégia eleitoral. Confira na íntegra:

P: Existem críticas à sua atuação no Senado, colocando que o senhor só teria ido à tribuna duas vezes desde que foi empossado e que não ajudaria o Pará como deveria. Como responde a isso?
R: Nunca deixei de ajudar o meu estado quando fui solicitado em nenhum dos mandatos que exerci. A avaliação do parlamentar moderno não pode ser medida na quantidade de vezes que vai à tribuna. Pode ir 300 vezes à tribuna e dizer 300 bobagens. Tancredo Neves, um dos maiores parlamentares que esse país já teve, ia uma vez ao ano à tribuna para analisar a situação nacional, mobilizando a casa e a imprensa nacional. Nesse caso o que interessa é a qualidade, não a quantidade. O que tenho feito é utilizar de um instrumento fundamental do Legislativo em defesa do Pará: a fiscalização dos interesses do meu estado. Quem reacendeu o debate do Pedral do Lourenço fui eu, a partir de um pedido de informações à Ministra do Planejamento, quando descobrimos que o projeto estava numa Comissão de Estudos. A partir daí passei a questionar o processo através de pedidos de informação da mesa do Senado, que obriga a resposta do gestor, instrumento que muitos parlamentares desconhecem. Caso não haja essa resposta, implica em crime de responsabilidade. O mesmo fiz com a ferrovia Norte-Sul, que não atravessaria Paragominas a Vila do Conde; do ramal do Porto do Espadarte e muitos outros. São questões vitais para o desenvolvimento do nosso Estado, isso sem falar da quantidade de emendas que alocaram recursos junto a ministérios a vários municípios do Estado. Na tribuna, trato de questões sérias, e não de bobagens.

P: Estamos vendo grande mobilização de servidores públicos contra a política salarial do atual governo, que com dois decretos cortou gratificações e adicionais da categoria. Como o senhor avalia essa movimentação?
R: Lamentavelmente existe uma postura preconceituosa e equivocada do governo em relação ao servidor público, que é peça fundamental no Estado. Como funciona a educação, a saúde e a segurança sem o servidor público? A peça primeira de qualquer engrenagem da máquina pública é o funcionário público, que deve ser capacitado e preparado para atuar na sua área específica. Mas para isso é preciso diálogo. No meu segundo mandato não enfrentei nenhuma greve do funcionalismo público, sempre repondo a inflação e concedendo uma série de benefícios, como o Regime Jurídico Único e o Estatuto do Magistério. Nada disso me impediu de fazer um grande programa de obras no Estado, que marcaram época e que duram até hoje, 22 anos depois que saí do governo.

P: Muitos acham que investir em servidor público é jogar dinheiro pelo ralo…
R: Aí é que está o equívoco. Jogar dinheiro pelo ralo é manter uma estrutura no Estado com mais de 90 órgãos na administração, sendo que alguns deles nem sabemos que existem e para que servem, a não ser para abrigar cargos comissionados e assessorias. Isso sim é jogar dinheiro fora. Criaram uma Secretaria de Municípios Verdes e fico a me perguntar: será que as tarefas dessa secretaria não poderiam ser desempenhadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente? Porque manter uma Secretaria de Articulação Municipal? Esse trabalho não poderia ser feito pela Secretaria de Planejamento e pela Casa Civil? O Pará tem uma Companhia de Portos e Hidrovias, tendo uma Secretaria de Transportes… É muito fácil colocar a responsabilidade em cima do funcionalismo. No meu último governo criamos um Conselho de Política Salarial com assento de representantes do funcionalismo. Eu mesmo recebi inúmeras vezes a categoria. Cheguei a ceder uma sala na Secretaria da Fazenda onde era disponibilizado aos servidores todos os números e contas do Estado para que pudessem acessar a todos os recursos que o Estado possuía e onde estava sendo aplicado. O que existe hoje é uma grande falta de respeito ao funcionalismo público em razão e uma postura preconceituosa. Sem funcionalismo respeitado, estimulado e bem remunerado, o resultado não será nada bom para sociedade e para o Estado.

P: A oposição ao senhor afirma que na sua administração o gasto com pessoal era descontrolado, sem a possibilidade de realização de outros investimentos e obras…
R: É uma leviandade alguém tentar justificar seu fracasso administrativo culpando o governo que o antecedeu. É lamentável o governador Jatene justificar a incompetência do seu governo, o caos administrativo que afeta as áreas de educação, saúde e segurança em cima de administrações de mais de 20 anos atrás. Chega a ser patético e grotesco subestimar a memória e a análise dos paraenses. Daqui a pouco o governador vai justificar sua incompetência em cima dos governos de Lauro Sodré, do Magalhães Barata e do Zacharias de Assumpção… O que o governador Jatene tem que explicar é o caos na sua administração. Eu só pude assinar o contrato para as obras de Macrodrenagem da Bacia do Una com o BID porque as contas do Estado estavam todas em ordem e regulares. Caso contrário não seria possível. Saí do governo dando a contrapartida do Estado para a obra e deixando no Banco do Brasil mais de R$ 200 milhões para investimento.

P: E os investimentos em obras?
R: Poderia ficar aqui horas listando o meu legado administrativo ao Pará, mas cito algumas como a viabilização da estação de tratamento de água da capital e toda a sua rede de distribuição. Quando eu assumi só existia energia elétrica em dois municípios do Estado: Belém e Barcarena por conta da Albrás. O resto do Pará recebia energia das estações de diesel, que foram substituídas através da chegada do Linhão de Tucuruí por quase todo o Estado, além de dobrar a capacidade da hidrelétrica de Curuá-Una, no maior projeto de eletrificação já realizado no Estado. Eu levei energia de Belém até Conceição do Araguaia. Construí as rodovias mais importantes desse estado com recursos do tesouro estadual, como a PA-150 e a PA-141, além de ter estreitado a ligação da PA-254 na margem esquerda do Amazonas, encurtando uma viagem de dez para três horas. Também distribuí mais de 50 mil títulos de terra para agricultores e um sem número de desapropriações em áreas da região metropolitana e do interior do Estado. Sem falar na construção do Hospital das Clínicas, Centur, o primeiro centro de convenções do Estado; o Hemopa, que era considerado àquela altura o mais moderno hemocentro da América do Sul. No meu governo a Santa Casa foi toda reformada, integralmente, assim como o Hospital Ophir Loyola, sem falar na construção de vários hospitais em diversas regiões do Estado. No meu governo realizei o maior projeto de interiorização do ensino universitário, com a UFPA, implantando diversos campi pelo interior como em Castanhal e Altamira. Foi o meu governo que dobrou o número de policiais militares na corporação e construiu as primeiras seccionais de polícia como a de São Brás, que existe até hoje. Isso para citar alguns exemplos aqui, de improviso. Falar que não realizei obras é brincar com a memória do povo do Pará. A atual gestão inclusive arrancou a placa com meu nome que estava no Palácio Lauro Sodré, que eu entreguei completamente reformado no último dia do meu governo. Esta gente pensa que pode apagar a história.


P: Seus opositores também dizem que sua gestão foi marcada por atrasos nos salários do funcionalismo…
R: Mais uma mentira. Eu entreguei o Estado ao vice-governador Carlos Santos com o funcionalismo em dia, com a folha de pagamento do mês seguinte depositada. Entreguei o governo de forma correta, entregando obras e com o funcionalismo satisfeito. A partir daí, o Carlos Santos refez a equipe de governo, trocando os secretários de finanças, de planejamento, de administração, de educação. Foi a administração de Carlos Santos que passou o governo para o então governador Almir Gabriel em janeiro de 2005, e não eu, como mentirosamente andam publicando. Não me interessa o julgamento leviano dos meus adversários e dos meus possíveis inimigos. O que me interessa, como homem público há 47 anos, é o julgamento do povo do Pará. Fiz o sucessor no meu primeiro governo e entreguei o meu segundo governo todo organizado e com um volume de obras fantástico, sendo eleito senador em seguida. Desafio que qualquer outro governo tenha realizado tantas obras de infraestrutura como o meu. O governador que me antecedeu no meu segundo mandato resolveu dar um reajuste de 153% com vigência a partir de março do primeiro ano do meu mandato. Como resolver esse problema? Muitos apostaram que eu revogaria o decreto do meu antecessor e dei um aumento de mais de 150%. Como governador eu sempre enfrentei os problemas do Estado e não culpei ninguém. E isso sem apoio do governo federal. Teve governo que vendeu a Celpa por US$ 450 milhões e que até hoje não sabemos onde foi aplicado. O atual governador, que era secretário do governo que vendeu a empresa, até os dias atuais não explicou onde foi parar esse dinheiro. Fica como ladrão de feira que bate a carteira e a bolsa e sai gritando “Pega Ladrão!” , quando o ladrão é ele mesmo…


P: As mesmas pessoas que hoje lhe criticam já foram seus aliados no passado. O atual governador foi inclusive um de seus assessores mais próximos…
R: A primeira função pública do Simão Jatene quem deu fui eu: foi meu secretário de Planejamento. Em seguida foi o secretário Nacional de Cadastro do Ministério da Reforma Agrária quando eu ocupava a pasta. Depois, no Ministério da Previdência Social, foi meu secretário. Mais tarde foi indicado por mim para ser secretário da Reforma Agrária. Ao voltar para cá, Jatene foi novamente meu assessor. Ele me deve pelo menos uns quatro cargos públicos. Na área eleitoral a mesma coisa… Me recordo de quantas vezes ele visitou meu sítio na Augusto Montenegro para implorar meu apoio contra a candidata Maria do Carmo. Não me arrependo de nada, pois as circunstâncias políticas naquele momento me levaram a apoiá-lo, levando à sua vitória de maneira apertada. Na última eleição ele também me apelou pelo apoio no segundo turno eleitoral, me visitando várias vezes no meu flat na Batista Campos.

P: Porque houve o rompimento político entre o senhor e o governador?
R: Até hoje não entendi. A bancada do PMDB na Assembleia Legislativa sempre ajudou o governo em todas as solicitações, colaborando com a atual gestão. Eu li que, quando o governador estava no Japão, que teria recebido informação que o PMDB iria votar contra um empréstimo, mas o partido votou favoravelmente. Creio que isso tudo foi fruto de uma ciumeira, porque o nome do Helder [Barbalho] começou a ser cogitado como eventual candidato ao governo. Isso sem qualquer aval de minha parte, diga-se de passagem. Foram dadas umas secretarias para o PMDB que eu não sabia sequer o endereço, como a Secretaria de Pesca. Nunca chamei um secretário de Estado ou dirigente de órgão dessa gestão para debater questões de natureza administrativa ou fazer qualquer tipo de pedido e tampouco fui procurado por alguém com interesse no Estado. Essa era nossa influência do governo que aí está.

P: Na leitura da sua mensagem no início do ano legislativo, o governador Jatene classificou seus opositores de oportunistas…
R: Bom, então o governador terá que chamar todo o povo do Pará de oportunista. Na última pesquisa do Ibope feita pela Confederação Nacional da Indústria, o nosso chefe do executivo ficou entre os piores governadores do país. Alcançou o posto de quinto pior governante do Brasil. Quem disse isso não fui eu ou o PMDB ou o funcionalismo público, mas o povo do Pará, que na visão do governador deve ser o oportunista. Foi esse povo que classificou essa gestão tucana de inoperante, de incompetente, que privatizou a saúde pública no Estado e que tornou a segurança pública esse desastre que é hoje: Belém é considerada uma das cidades mais violentas do mundo. Oportunistas são os que constatam e criticam essa realidade? Isso é subestimar a capacidade de avaliação da população paraense. No quarto ano de mandato, vemos pela TV, jornais e blogs o governador batendo boca com estudantes de Santarém que ousaram questionar a reforma de fachada de uma escola pública. O governador culpou estudantes pelo estado de abandono da escola. Aí em seguida vemos um empreiteiro mandar retirar a grama já plantada numa escola por falta de pagamento. Hoje a maior parte dos pequenos empreiteiros do Estado estão sem receber desde o ano passado. Muitos faliram. É esse governo fracassado que chama de oportunistas os que constatam essa realidade.

P: O candidato do PMDB ao governo do Pará será mesmo Helder Barbalho?
R: O Helder é o nome pré-lançado. Candidatura mesmo apenas após a convenção do partido. Nós temos um nome que está sendo instado e lembrado pelos companheiros e por muitas pessoas em vários cantos desse Estado. E estaremos junto com o PT na próxima eleição. É isso que está acordado até o momento, com a vaga do senado destinada ao partido da presidente Dilma.

P: Como o senhor vê a insatisfação do PMDB na Câmara Federal e em muitos setores do partido acerca do tamanho da legenda dentro do Governo Dilma? Ela pode ter reflexos aqui no Pará?
R: É muito natural que os partidos políticos busquem seu espaço político, um espaço do seu tamanho. O PMDB é um grande partido por possuir a maior bancada no Senado, a segunda maior bancada na Câmara, por presidir essas duas casas e ter um número considerável de governadores… Acho farisaica essa posição de que os partidos ajudam os governos a governar mas não devem reivindicar seu espaço. Nem na política do Vaticano isso existe. Então esse pleito é perfeitamente normal e caberá à presidente Dilma estabelecer o melhor diálogo possível para garantir a sua reeleição acomodando o PMDB e os demais partidos da sua base.


P: Parece que está havendo uma tentativa dos tucanos em dividir o palanque da candidata Dilma Rousseff no Pará…
R: Olha, seria uma indelicadeza da minha parte discutir a estratégia dos outros partidos. Se o atual vice-governador, a bordo do imenso prestígio político-eleitoral que possui, conseguir o apoio até mesmo do Obama [o presidente dos EUA, Barack Obama] para vir aqui, será mérito dele. Tenho obrigação é de discutir a estratégica do meu grupo político. Quem sabe também seja possível o Putin [presidente da Rússia, Vladmir Putin], que promove as Olimpíadas de Inverno na Rússia, também dar um pulo amigo aqui para apoiar a candidatura do nosso vice-governador. Só acho complicado nossos adversários tentarem buscar apoio da presidente Dilma. Ao mesmo tempo não se sabe se o atual governador apoiará ou não o candidato Aécio Neves. Por outro lado, pega um quadro do PSDB e aloca no PSB do candidato Eduardo Campos… O que percebo disso tudo é um tremendo desencontro. A estrutura partidária do governador apoiará quantos candidatos a presidente?



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