CIENTISTAS DO REINO UNIDO E DOS EUA CONCLUEM QUE O SATÉLITE NATURAL É UMA PARTE QUE SE DESPRENDEU DE NOSSO PLANETA, DEPOIS DO CHOQUE COM UM ASTEROIDE. ESTUDO DERRUBA TEORIA DE CINCO DÉCADAS
A Lua, nosso vizinho mais próximo, é motivo de culto em algumas culturas, influencia as marés e simboliza o amor romântico. O fascínio do homem pelo único satélite natural da Terra vem fazendo com que a origem da bola rochosa seja um dos principais enigmas da astronomia. Em um conjunto de artigos publicados nas edições de hoje das duas principais revistas científicas do mundo, a Nature e a Science, um grupo de pesquisadores britânicos e norte-americanos anunciou uma reviravolta na principal teoria sobre o surgimento do astro. Segundo as novas pesquisas, a Lua é um pedaço da Terra, desprendido depois de uma colisão gigante há bilhões de anos.
Os pesquisadores já sabiam que a Lua teria sido formada depois da queda de algum astro na Terra. No entanto, de acordo com a principal teoria vigente desde a década de 1960, uma rocha derretida do asteroide Theia teria dado origem ao satélite. “O objeto que colidiu com o planeta teria sido gigantesco, do tamanho de Marte e com uma massa equivalente a 10% da Terra”, explica Frederic Moynier, cientista da Universidade de Washington e um dos líderes do estudo. A proposta se tornou a mais aceita pela comunidade científica desde a invenção dos computadores modernos. Capazes de cálculos complexos, eles mostraram que, matematicamente, seria possível que o choque criasse a Lua. Tal teoria passou a ser chamada de Big Splash.
Esse modelo, no entanto, passou a ser colocado em xeque já no início da década de 1970, quando as primeiras amostras da Lua chegaram à Terra, trazida pelas cápsulas das missões Apollo, que visitaram o satélite, entre 1969 e 1971. Análises químicas feitas nas rochas lunares mostraram que a composição química do satélite era parecida com a da Terra. O impasse permaneceu durante quase quatro décadas. Até que, mais uma vez, o desenvolvimento de instrumentos de análises mais detalhadas permitiu aos cientistas compreenderem a estrutura química lunar. “Nós ainda trabalhamos em rochas coletadas pelas missões Apollo, porém, hoje, temos os tipos mais modernos de instrumento para medir a abundância química com uma precisão muito elevada”, explica Moynier.
Foi o elemento zinco, farto tanto na Terra quanto na Lua, que serviu de guia para os pesquisadores. “Usamos um instrumento chamado espectrômetro de massa com fonte de plasma para medir a abundância de diferentes formas do elemento zinco”, conta o especialista norte-americano. Os isótopos do elemento encontrados na Lua são de um tipo semelhante ao existente na Terra, o que reforçaria a ideia de que o satélite é um pedaço desgarrado de nosso planeta. “O zinco lunar que encontramos é diferente do zinco terrestre. Essa diferença deve ter se originado em um evento evaporativo gigantesco, muito provavelmente o imenso impacto que deu origem à Lua”, explica.
Condensação no momento do choque, uma grande quantidade de rocha terrestre derretida teria sido lançada para fora da Terra, não se distanciando do planeta graças à força da gravidade. Segundo a nova tese, os isótopos mais densos de zinco se condensaram mais rapidamente, em comparação com as variantes mais leves do elemento. Assim, ao contrário do que se imaginava, não teria sido um processo de vulcanismo o responsável pela presença do zinco lunar, mas uma grande evaporação, ocorrida durante o resfriamento do material terrestre.
Mas o que teria ocorrido com o grande corpo que se chocou com a Terra e causou a explosão? Os cientistas também têm uma teoria para isso: a energia liberada no choque entre o nosso planeta e o asteroide foi capaz de derreter o material que o compunha, depositando a maioria dos resíduos no planeta. Apenas os silicatos mais leves teriam entrado em órbita. Mais tarde, foram acrescidos de outras substâncias vaporizadas, atuando no processo de formação do satélite natural terrestre.
Descoberto um “astro irmão” Um grupo de astrônomos da Universidade do Porto, em Portugal, anunciou na edição de hoje da revista Nature, ter encontrado um planeta bastante especial. Na constelação Alpha Centauri B, localizada a apenas 4,3 anos-luz da Terra — um distância bastante pequena, se considerada a escala espacial —, existe um planeta de massa muito similar à da Terra.
As semelhanças com nosso planeta não param por aí. O astro orbitaria uma estrela com dimensões e idade parecidas às do nosso Sol. Trata-se da primeira vez que uma dupla tão parecida com o Sol e com a Terra são localizados juntos. A proximidade e as característica dele permitem, que no futuro, sondas espaciais possam ser enviadas ao planeta, até agora o mais parecido com o nosso a ser localizado em regiões próximas.
Os especialistas do Observatório de Genebra, na Suíça, e do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, em Portugal, utilizaram um instrumento chamado Harps para visualizar o corpo. O equipamento está instalado no complexo do Observatório Europeu do Sul (ESO), no norte do Chile, o mais potente observatório espacial já construído.
Antes de os entusiastas da vida alienígena começarem a tentar contato com a “nova Terra”, os cientistas mandam um aviso. O planeta está fora da chamada zona habitável — a região distante da estrela onde a temperatura é alta o suficiente para que exista água sob a forma líquida, mas não tão grande para que ela evapore completamente, impedindo o estabelecimento de alguma forma viva. Em resumo: o planeta é um grande deserto rochoso.
Por Max Milliano Melo
(ESTADO DE MINAS)